Capítulo 2 - O Retorno e nova Queda
Capítulo 2
O Retorno e
nova Queda
Quando retornei ao Recife, trazia comigo uma bagagem pesada de memórias,
algumas boas e leves, mas a maioria com alguns traumas. O passado parecia uma
sombra que teimava em me acompanhar, mas eu estava determinada a encontrar a
luz. O que eu não sabia, no entanto, era que essa busca me levaria a enfrentar
tempestades ainda mais ferozes. Foi então que dei início ao meu primeiro
tratamento psiquiátrico, uma tentativa desesperada de encontrar equilíbrio em
meio ao caos. Um antidepressivo pela manhã, um ansiolítico à noite. Era uma
rotina impessoal, mas era minha âncora em um mar revolto, onde as ondas da
incerteza ameaçavam me engolir a cada instante.
Ana Beatriz Barbosa, em seu livro "Mentes Ansiosas", explica
que a ansiedade pode ser desencadeada por múltiplos fatores, incluindo traumas
passados e estresse crônico. Ela menciona que o uso de medicamentos, como
antidepressivos e ansiolíticos, pode ser necessário para estabilizar os
sintomas e permitir que o paciente se engaje em terapias mais profundas e
significativas. A depressão e a ansiedade são condições complexas que afetam
milhões de pessoas no mundo.
O trabalho, que antes era uma paixão, agora parecia uma montanha
intransponível. Não consegui voltar a trabalhar. Porém, uma amiga querida
estendeu a mão e me convidou para um encontro promovido por uma igreja local.
Foi ali, naquele ambiente de fé e acolhimento, que encontrei uma espécie de
terapia alternativa. Semanalmente, eu me reunia com um grupo de pessoas que,
como eu, buscavam redenção e força. Esses encontros se tornaram minha fonte de
compreensão, espiritualidade e parcerias.
Louise L. Hay, autora de "Você Pode Curar Sua Vida", fala
sobre o poder da mente e das crenças na cura emocional e física. Ela defende
que a espiritualidade e o pensamento positivo podem ter um impacto
significativo na recuperação de transtornos mentais. Encontrar um grupo de apoio,
como eu fiz, pode oferecer um senso de pertencimento e esperança, que são
cruciais para a recuperação.
Porém, mesmo com todo o apoio, eu sentia que algo essencial faltava:
autoconhecimento, ou seja, a psicoterapia. A verdadeira chave para a superação
e, talvez, para a estabilização da minha saúde. Passei seis meses entre o
tratamento e os encontros da igreja, até que, nos primeiros dias do ano
seguinte, surgiu uma oportunidade de trabalho de meio período. Aceitei, na
esperança de que isso pudesse trazer algum sentido à minha vida.
Esse novo trabalho trouxe grandes experiências e me fez uma profissional
reconhecida e competente. No entanto, ele também foi condição para uma
deterioração significativa da minha condição psiquiátrica. Vale ressaltar aqui
que esse trabalho foi e ainda é apenas um gatilho e não a causa ou o motivo de
qualquer condição mental. Durante dois anos, minha vida girou em torno do
trabalho, sem qualquer tipo de tratamento adequado. O ansiolítico e o sonífero
se tornaram meus únicos aliados, tomados esporadicamente.
O fenômeno da sobrecarga de trabalho e suas consequências na saúde
mental são amplamente documentados. Ana Beatriz Barbosa aborda esse tema em
"Mentes e Manias", onde descreve como o estresse prolongado e a falta
de tratamento adequado podem levar a crises graves e à deterioração da
qualidade de vida. No meu caso, ainda causou dependência patológica do ambiente
desse trabalho. Sem trabalhar a fé e nem a mente em uma terapia, deixei que
esse sentimento me tomasse de forma negativa, encoberta pelas experiências
positivas.
Após um longo período de viagens a trabalho, cheguei ao meu limite. O
peso que carregava, tanto físico quanto emocional, se tornou insuportável.
Decidi que precisava de uma solução definitiva e optei pela cirurgia de redução
de estômago, que achava ser a solução para todas as questões. Aos 31 anos, no
final de 2007, submeti-me à cirurgia. Clinicamente, tudo correu bem. Meu
processo de emagrecimento começou de forma promissora. No entanto, sem a comida
como muleta emocional e sem terapia, passei a ser uma pessoa reativa e com
discurso agressivo. Minhas emoções ficaram à flor da pele, distorcidas, e
qualquer frustração parecia uma montanha intransponível.
A compulsão alimentar e a relação emocional com a comida são temas
centrais no trabalho de Louise L. Hay. Ela afirma que muitas pessoas usam a
comida (entre outros hábitos) como uma forma de preencher vazios emocionais e
que a cura verdadeira só é possível quando essas questões subjacentes são
tratadas.
Cinco meses após a cirurgia, com 40% a menos de peso, fui surpreendida
com uma demissão. Os motivos dessa ruptura são complexos e envolvem várias
pessoas e circunstâncias, impossíveis de narrar de forma justa e ética. O que
importa é que, dedicando-me 100% ao trabalho que ocupava todo meu tempo, além
do vício e a obsessão por ele, a demissão foi um golpe devastador. Esse evento
desencadeou a primeira crise psiquiátrica grave da minha vida e me levou ao
segundo tratamento psiquiátrico, enquanto continuava a perder peso.
Esse período é um capítulo à parte na saga que vivo até hoje. Entre altos e baixos, aprendi que minha jornada é feita de ciclos de resiliência e vulnerabilidade. No próximo capítulo, contarei como vivi esse período de turbulência e as lições que ele me trouxe.
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