Capítulo 3 - Recuperação Definitiva, Mero Engano

Capítulo 3

Recuperação Definitiva, Mero Engano

 

Era 16 de abril de 2008. Dois dias após minha demissão, ainda tentava manter a cabeça erguida, acreditando que poderia encontrar um novo caminho rapidamente. Reescrevi meu currículo e o enviei para contatos estratégicos, mas a desesperança começou a se instalar como uma sombra implacável. A ingestão irregular de ansiolíticos, sem acompanhamento médico, rapidamente transformou meu estado mental de proativo para completamente alterado, mergulhando-me em um abismo de confusão e incerteza. Aqui relato o início de uma dependência por benzodiazepínicos ou qualquer fármaco que resultasse numa sedação ou anestesia.

 

Minha memória, daquele período, é nebulosa, apagada pela combinação tóxica de medicamentos. Perdi a noção de minhas ações racionais, sendo guiada apenas pelo emocional do momento. Entre mensagens e publicações em que agredia pessoas que, na minha cabeça, me frustravam ou aparentemente me rejeitavam e várias horas de sono enquanto durasse o efeito dos medicamentos, ficava fora de meu próprio controle emocional. Quando o efeito dos remédios passava, minha mente não conseguia reter nada do período em que estava intoxicada. Essa é uma constante até hoje, um padrão que persiste ao longo dos anos, como uma bruma densa que se recusa a se dissipar.

 

Meus pais, percebendo meu estado deteriorado, me levaram de volta ao psiquiatra. Foi então que iniciei meu segundo tratamento. Dessa vez, tomava um antidepressivo, um ansiolítico e um hipnótico para dormir. O efeito das medicações prolongadas demora para se manifestar completamente, deixando-me ainda mais vulnerável e desejando apenas dormir para esquecer o vazio.

 

Em um desses dias sombrios, resolvi tomar uma dose maior da medicação do que a recomendada. Em menos de dois meses, fui tomada por outra crise, dominada pelo emocional. O racional não existia mais; minhas ações eram impulsivas e sem controle. Quando o efeito dos remédios em excesso passava, eu recuperava a noção da realidade, mas era recebida por uma onda avassaladora de culpa e desordem, completamente perdida no tempo e sem memória do passado recente.

 

Ana Beatriz Barbosa Silva, em seu livro "Mentes com Medo", explora como a automedicação e a falta de acompanhamento médico podem agravar os transtornos mentais. Ela destaca que "a dependência química é uma forma de aliviar a dor emocional, mas que, sem tratamento adequado, pode levar a ciclos de crise e recuperação falha".

 

Foi um período crítico, até que meus pais decidiram tutelar meus medicamentos. Lentamente, ao longo dos meses, fui me afastando das fontes de sofrimento e recuperando minha saúde mental. Em agosto, comecei a terapia e a yoga, duas práticas que se tornaram minhas tábuas de salvação. Naquele momento, já havia perdido 50% do meu peso e estava estabilizada em relação à obesidade que não mais existia. Uma nova vida estava se desenhando diante de mim: 45 kg a menos e uma realidade totalmente nova, que parecia quase surreal.

 

Louise L. Hay, em seu livro "Você Pode Curar Sua Vida", ressalta a importância da mudança de hábitos e do autocuidado na recuperação de transtornos emocionais e físicos. Segundo Hay, "a prática de exercícios e a meditação são ferramentas poderosas para transformar a mente e o corpo, promovendo um estado de equilíbrio e bem-estar".

 

Embora tenha feito um último trabalho para meu antigo emprego, no final desse mesmo ano, em janeiro de 2009, fui convidada a dar aulas em uma faculdade. Esse convite foi uma nova tábua de salvação. Em abril daquele ano, após um ano de tratamento, comecei a reduzir gradualmente os medicamentos e iniciei a psicanálise, que durou mais um ano. Daí em diante, considero aquele período a era de ouro da minha vida. Passei três anos sem precisar de tratamento, trabalhando com pessoas e em lugares interessantes. Em 2010, fui sozinha morar em Paris por um tempo, uma experiência que confirmou minha saúde mental restabelecida.

 

Passei alguns anos nesse estado de bem-estar, até que, em março de 2012, tendo voltado para aquele antigo emprego, mais uma sequela. Foi então que tudo começou a desmoronar novamente. Aquele trabalho parecia ser um dos fortes gatilhos de toda minha desordem mental, mas só descobriria isso um ano depois, em 2013, quando saí definitivamente.

 

Ana Beatriz Barbosa Silva, em "Mentes Depressivas", discute como fatores externos, como ambientes de trabalho tóxicos, podem desencadear ou agravar quadros de depressão e ansiedade. Ela enfatiza que "reconhecer e afastar-se de gatilhos externos é crucial para a manutenção da saúde mental".

 

O ano de 2012 foi desafiador, repleto de pequenas crises e do uso indiscriminado de ansiolíticos, que me faziam mal. Comecei também a abusar do álcool, sem admitir que estava ultrapassando os limites. Em abril de 2013, me encontrei novamente sem trabalho, sem saúde mental e morando com meus pais, desta vez em outra cidade, a 80 km da capital. Continuava magra, vivendo uma vida que ainda era nova para mim. No entanto, os remédios esporádicos e o álcool semanalmente persistiam. Dessa vez, com períodos de uso do tabaco. Continuava a falta de trabalho.

 

Até que em outubro daquele ano, uma nova reviravolta aconteceu na minha vida, iniciando uma fase que duraria os próximos três anos. Um período sem grandes crises, mas mentalmente comprometido, que vou contar no próximo capítulo.

 

Louise L. Hay também aborda, em seus escritos, a importância de uma abordagem holística para a recuperação. Ela menciona que "não basta tratar apenas os sintomas físicos ou mentais; é necessário um alinhamento completo entre corpo, mente e espírito para uma cura verdadeira e duradoura".

 

No próximo capítulo, vou mergulhar em detalhes sobre como naveguei esse período de aparente calmaria, mas com desafios internos persistentes.

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