Capítulo 4 - Fragmentos de um Passado Recente

Capítulo 4

Fragmentos de um Passado Recente

 

Outubro de 2013. A cidade do Recife resplandecia sob o sol tropical quando recebi a indicação para um emprego que me permitiria retornar à minha terra e finalmente alugar um apartamento para morar sozinha. A promessa de independência parecia um novo começo, uma fuga das sombras que haviam marcado minha vida. Por quase um ano, resisti sem medicamentos, mas o álcool ainda era meu companheiro sombrio, surgindo nas noites solitárias e nos fins de semana desmedidos.

 

Setembro chegou com seu sopro melancólico. Duas decepções amorosas seguidas se enlaçaram com minha estagnação profissional, criando um nó inescapável em minha mente. O trabalho, que antes era um porto seguro, transformou-se em uma carga insuportável. Em um momento de desespero, voltei a tomar o ansiolítico que acreditava ser minha tábua de salvação. Naquele tempo, eu não compreendia a profundidade de minha dependência. Minhas crises maníaco-depressivas, que surgiam como tempestades inesperadas, eram na verdade alimentadas pelo retorno constante aos benzodiazepínicos, começando sempre com doses prescritas até que eu, em um impulso cego, as aumentava drasticamente.

 

Essa nova crise se revelou mais emocional do que comportamental. Minha compulsão por gastar dinheiro me levou a contrair dívidas significativas para financiar duas viagens de férias: uma para São Paulo e outra, surpreendentemente, para o México, onde me aventurei completamente sozinha. Dois meses após essas fugas desesperadas, fui novamente surpreendida com uma demissão — a segunda em minha vida. Uma sensação de fracasso tomou conta de mim, como um véu escuro que se recusa a ser removido. Tive que voltar a morar com meus pais naquela mesma cidade do interior. Não me entendam mal. Morar com meus pais é motivo para gratidão. Quando tudo dava errado em minha vida, sempre tive eles e suas residências para me amparar.

 

Foi nessa atmosfera sufocante que um novo relacionamento à distância surgiu. Tóxico e desgastante, ele durou quase dois anos, período durante o qual minha mente mergulhou ainda mais na confusão. Sem emprego, frustrada e perdida, mergulhei no alcoolismo, no fumo e no uso indiscriminado de ansiolíticos, sem qualquer acompanhamento médico. O início de 2017 trouxe outra crise avassaladora. A mistura de várias medicações com álcool culminou em março de 2017, quando atingi o ápice de minha desordem mental e precisei de acompanhamento hospitalar intenso por uma semana.

 

Foi então que um novo psiquiatra entrou em minha vida, um verdadeiro milagre, atendendo também na cidade de interior onde eu residia. Com ele, iniciei um terceiro tratamento psiquiátrico. Dessa vez, um novo diagnóstico emergiu: Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), caracterizado por uma predominância de pensamentos obsessivos, compulsão e impulsividade, e um alarmante risco de suicídio.

 

O tratamento, sem previsão de alta, envolvia três medicações complementares para estabilizar meu humor. Embora tenha recuperado 40% do meu peso devido aos medicamentos, comecei a mudar meus hábitos de vida.

 

Mudança de Hábitos

 

A atividade física regular, que durou seis anos e meio, tornou-se um pilar em minha luta pela sanidade. Abandonei todas as minhas atividades profissionais na área onde atuava há 17 anos e me voltei para os estudos, com o foco em concursos públicos, que seguraram minhas crises por mais alguns anos.

 

Morar sozinha em São Paulo foi o próximo desafio. Sem conseguir emprego e sem recursos para sustentar minha vida na metrópole, fui obrigada a voltar para casa. A frustração de não ter dado certo em São Paulo, somada ao aumento de peso e à reprovação no concurso para o qual eu havia estudado tanto, além da chegada de uma pandemia avassaladora, com muitas mortes de pessoas do meu entorno, vieram como um furacão devastador. Não resisti e voltei aos fármacos de tarja preta. O ciclo se repetiu: começava com a dose indicada pelo médico, mas logo aumentava na tentativa desesperada de manter o efeito sedativo. Mais uma fase de crises e calmarias se iniciava.

 

Uma Análise Profunda Provisória

 

Ao olhar para trás, percebo que minha trajetória é um reflexo trágico e comum da luta contra transtornos mentais. Segundo Ana Beatriz Barbosa, em seu livro “Mentes Depressivas”, muitas pessoas enfrentam a dualidade de buscar alívio nos medicamentos enquanto lidam com os efeitos colaterais e a dependência que eles podem gerar. Essa montanha-russa de emoções e comportamentos impulsivos é uma característica marcante de muitos transtornos mentais, onde a busca por controle muitas vezes resulta em uma perda ainda maior de estabilidade.

 

Louise L. Hay, em seu livro “Você Pode Curar Sua Vida”, argumenta que a raiz de muitas compulsões e dependências está em padrões de pensamento e emoções não resolvidas. Em minha jornada, vi essa verdade refletida repetidamente. Cada crise, cada episódio de compulsão por gastar dinheiro, beber ou tomar medicamentos em excesso, estava enraizado em uma tentativa desesperada de preencher um vazio interno, de silenciar uma dor emocional que eu não conseguia enfrentar.

 

Casos Semelhantes

 

Histórias como a minha não são raras. Em “Mentes e Manias”, Ana Beatriz Barbosa relata casos de indivíduos que, assim como eu, lutaram contra compulsões de diversos tipos, desde compras impulsivas até alimentação descontrolada, muitas vezes levando a crises financeiras e emocionais severas. Em “O Poder Está Dentro de Você”, Louise L. Hay compartilha histórias inspiradoras de pessoas que superaram suas compulsões e dependências ao se voltarem para práticas de autocuidado e mudança de pensamento, mostrando que a recuperação é possível, mesmo nos casos mais desafiadores. O que aconteceu no último período contado até hoje relato no próximo capítulo.

Comentários